Eu nasci na época errada!

Foi o que eu disse ao meu amigo Nicolau (1000Nicks) quando, certa vez, ele me perguntou como eu conhecia e curtia determinadas músicas, músicas essas tão antigas quanta minha própria existência. E isso me levou a recordar um certo período da minha vida.

No final da década de 80, entre meus 8 ou 9 anos de idade, minha família morava no Jardim Walquíria, entre Capão Redondo e Campo Limpo, na zona sul de São Paulo. Esse mesmo bairro, graças à operação policial conhecida, por lá mesmo, como pente fino, promovida pela ROTA (Polícia Militar), ficaria conhecido mais tarde como Morro do Piolho. Apesar da violência nas periferias, a rua em que morávamos era relativamente segura e tranquila, e muitos pais, assim como os meus, permitiam que seus filhos ficassem até altas horas da noite na rua. Isso antes da chegada da ROTA, é claro.
Um dos nossos vizinhos, vulgo Dico, costuma promover bailes noturnos na sua casa nos fins de semana. Esses bailes eram conhecidos por todo o bairro como som do Dico. Lá  rolava vários estilos musicais de Jorge Ben a Kool Moe Dee, de Originais do Samba a Michael Jackson, de Bee Gees a Titãs, de Legião Urbana a Tim Maia, de Public Enemy a Jackson 5 (esse vídeo é incrível!).

Minha mãe, em sua sabedoria, não queria simplesmente trancar os filhos em casa. Isso poderia nos privar de certos ensinamentos importantes para nossa formação moral. Mas, ela precisava nos afastar da violência que subia o morro todas as noites dentro de seus camburões e suas baratinhas, tratando crianças como marginais. A solução razoável encontrada por ela foi nos tirar da rua, mas, permitir que nós ficássemos no som do Dico. Lá também havia outras crianças, sempre na companhia de alguém responsável, e de onde só saímos para ir direto para casa.

Era incrível a sensação de alegria e felicidade que emanava naquele lugar, em meio a toda aquela gente que, hora dançava e pulava ao som de James Brow, Milli Vanilli e Eric B. & Rakim e logo depois colava o rosto com as melodias de Manhattans, ZAPP e Prince. Como as pessoas não entendiam a língua inglesa - pelo menos eu não entendia, todos dançavam Gloria Gaynor, Donna Summer e Village People sem o menor preconceito.

As mídias de reprodução das músicas na época, pelo menos na periferia, eram apenas o LP de vinil e a fita k7. No som do Dico as pessoas levavam seus LPs particulares para tocar durante o baile, em um moderníssimo, aparelho 3 em 1. Eu me recordo das imagens de várias capas dos LPs que passaram por lá, como a do Kurtis Blow, Stevie Wonder, Marvin Gaye e outros.
Finalizo esse post com muita saudade desse tempo. Definitivamente, eu não nasci na época errada, apenas tive o privilégio de conhecer, dançar e curtir, ainda na minha infância, grandes músicas de vários ritmos, nacionais e internacionais. Tudo isso, enquanto a maioria das outras crianças, cantavam e pulavam com Xuxa e Balão Mágico.

Boa noite São Paulo. Ainda estou acordado!

Comentários

  1. Muito bom gosto musical!!! Saudosismo é sempre bom! Viva Jorge Ben...

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  2. Eu já conhecia essa história do som do Dico.
    Grande Genildo, daria pra escrever um livro com todas as histórias de vida que você já me contou nas voltas da faculdade!

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  3. Gê! Que blog lindo, que saudade! Tá favoritado aqui no meu PC.

    Você me parece uma pessoa iluminada. E ter nascido na época certa nem é o maior motivo.

    ;)

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  4. ge, meu querido. adorei o texto e saber mais coisas curiosas de sua infancia/adolescencia.
    vc é um querido, que consegue dar a volta por cima sabendo BEM o valor das raizes e quanto o mundo é fronteirico pra caramba.
    cara, eu sou daquela epoca. tenho fita k7 no carro! hehehehe. beijocas!

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  5. Isso aí Fresco....
    Não ter ido a um show do Tim Maia me deixa minha vida um pouco mais triste...rs...


    Abraço!

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  6. Você me surpreende em cada post, em cada aula chata, em cada papo de corredor. Bom demais conhecer um teco da sua infância e suas lembranças. Mano, tu é 1DASUL! hahahaha Da ponte pra lá! Adoro!
    Escuta, vou te emprestar um livro que tenho certeza que você vai gostar. E, veja bem: não empresto livro pra ngm!
    Besos!

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  7. Muito bom! Algo parecido aconteceu comigo, o local era o mesmo, o som era o mesmo em meados deste mesmo período...

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  8. AE.. GENILDO MAIS CONHECIDO COMO MURISSOCA, PARABENS MANO... ESSA REALIDADE É A CARA DA NOSSA INFANCIA... PARABENS
    DO SEU IRMAO. PACHECO OU NISSO COMO VC QUISER.

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  9. Muito bom!!! seu blog..vamos divulgar galeraaaa..
    bjs**Juliana..

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